Brasil pode zerar emissões de gases 10 anos antes da meta, diz estudo
O estudo Brazil Net-Zero by 2040, divulgado pelo Instituto Amazônia 4.0 em parceria com diversas universidades brasileiras, aponta que o Brasil pode atingir a neutralidade de carbono já em 2040, uma década antes do previsto pelo Acordo de Paris.
A conclusão baseia-se em simulações do BLUES (Brazilian Land Use and Energy System Model), que projeta cenários distintos de uso da terra, energia e políticas climáticas.
A consolidação desse resultado coincide com um momento estratégico: A COP 30, em Belém, onde o tema da antecipação das metas climáticas está no centro do debate global.
Os caminhos possíveis: natureza ou energia como força principal
O estudo identifica dois caminhos realistas para acelerar a descarbonização:
AFOLU-2040: soluções baseadas na natureza
Esse cenário concentra esforços no combate ao desmatamento, na restauração de ecossistemas e no estímulo a práticas agrícolas regenerativas. Segundo os pesquisadores, 87% das remoções de carbono até 2040 poderiam vir dessas ações:
Zerar o desmatamento até 2030;
Ampliar reflorestamento e restauração;
Incentivar sistemas agroflorestais;
Adotar modelos produtivos que regeneram o solo e ampliam a biodiversidade.
É o caminho de menor custo e maior previsibilidade, já que se baseia em tecnologias e práticas que o país domina.
Energy-2040: a aceleração da transição energética
A segunda trajetória aposta em uma mudança estrutural da matriz energética brasileira.
Maior uso de biocombustíveis;
Redução da dependência de petróleo;
Expansão de tecnologias de captura e armazenamento de carbono;
Desenvolvimento de novas infraestruturas de baixa emissão.
Este cenário reduz riscos territoriais, mas envolve custos mais elevados e o uso de tecnologias que ainda estão em fase de consolidação no país.
Custos, desafios e potencial de impacto
A AFOLU-2040 exigiria cerca de 1% de investimento adicional em relação à meta atual, sendo considerada a via mais acessível. Já a Energy-2040 demandaria cerca de 20% a mais de investimentos, devido à criação de novas infraestruturas e tecnologias industriais.
Ainda assim, os pesquisadores apontam que, com cooperação entre setores públicos e privados, além de uma distribuição justa dos custos, ambas as rotas são viáveis.
O Brasil, se bem-sucedido, pode se tornar um exemplo global de desenvolvimento associado à descarbonização.
Por que isso importa? E qual o papel da reciclagem no processo
A transição para emissões líquidas zero envolve reduzir a pressão sobre florestas, diminuir o uso de combustíveis fósseis e transformar a lógica de produção e consumo. Nesse ponto, a reciclagem se torna uma das ferramentas mais diretas para:
Evitar emissões associadas à extração de novos recursos;
Reduzir o volume de resíduos enviados a aterros;
Diminuir o uso de energia em processos industriais;
Fortalecer cadeias produtivas circulares.
Ao prolongar o ciclo de vida dos materiais, a economia circular contribui para a mitigação climática, especialmente em setores como metais, papel, embalagens e plásticos, que têm grande impacto emissivo na cadeia produtiva.
O estudo indica que alcançar emissões líquidas zero até 2040 é possível, desejável e estrategicamente vantajoso. Mais que atingir metas, trata-se de redefinir o desenvolvimento nacional, conectando proteção ambiental, economia e inovação.
Nesse processo, a reciclagem e a economia circular não são apenas complementos, são pilares essenciais de uma transição climática consistente, capaz de gerar emprego, valor e impacto real.




