Reciclagem no Brasil ainda é baixa, mas fatores podem reverter cenário

26 de setembro de 2025

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2024, publicado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), o país produz cerca de 81 milhões de toneladas de resíduos por ano. Desse montante, apenas entre 2,4% e 8,3% é efetivamente reciclado, segundo levantamento da Fundação Dom Cabral e do Instituto Atmos.


Essa baixa taxa de reciclagem representa uma perda econômica estimada em R$14 bilhões por ano. Entre os principais entraves estão os altos custos do processo, a falta de infraestrutura e a ausência de incentivos que promovam a cultura de descarte correto.

O papel da economia circular

A economia circular surge como alternativa para transformar esse cenário. Diferente do modelo linear, baseado em “extrair, produzir e descartar”, a proposta circular busca reduzir desperdícios e aumentar a reutilização de recursos.


Esse modelo se apoia em práticas como reutilização, reparação, renovação e reciclagem, ampliando o ciclo de vida dos produtos.


Nesse contexto, a logística reversa é uma ferramenta estratégica: ela permite que resíduos retornem ao setor produtivo, seja para reaproveitamento, reciclagem ou descarte adequado, por meio de fluxos que partem do consumidor final e chegam de volta à indústria.

Destinação dos resíduos no país

Segundo a Abrema, em 2023:


  • 28,7 milhões de toneladas (41%) foram destinadas a lixões, aterros irregulares, valas e terrenos baldios;
  • 40,5 milhões de toneladas (58,5%) tiveram como destino aterros sanitários ambientalmente regulares. 


Esses números revelam que ainda há muito espaço para melhorias na gestão de resíduos. O potencial de reciclagem no Brasil poderia chegar a 33,6%, de acordo com a gravimetria nacional do Panorama 2020.

Alumínio: um case de sucesso

Se por um lado a reciclagem nacional ainda é tímida, por outro o Brasil se destaca mundialmente em um setor específico: o das latas de alumínio.


Em 2023, o país reciclou 99,7% das 397,2 mil toneladas vendidas, o que representa mais de 30 bilhões de latas reaproveitadas. A média nacional dos últimos 15 anos é de 98%, consolidando o Brasil como líder global.

Perspectivas e COP 30

Em novembro, Belém (PA) sediará a COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Para líderes do setor, a pauta da reciclagem e da economia circular precisa ganhar espaço nos debates, indo além das questões de desmatamento e emissões


Segundo Cátilo Cândido, presidente-executivo da Abralatas, é essencial trazer a circularidade para o dia a dia do consumo das famílias, estimulando práticas sustentáveis em todos os setores.

Caminhos possíveis

O Brasil tem potencial para avançar. Entre as medidas que podem acelerar esse processo estão:

  • Incentivo à logística reversa em diferentes cadeias produtivas;
  • Ampliação de investimentos em coleta seletiva e triagem;
  • Fomento à educação ambiental para estimular hábitos conscientes;
  • Integração entre governos, empresas e sociedade para fortalecer a economia circular.


14 de novembro de 2025
O estudo Brazil Net-Zero by 2040 , divulgado pelo Instituto Amazônia 4.0 em parceria com diversas universidades brasileiras, aponta que o Brasil pode atingir a neutralidade de carbono já em 2040, uma década antes do previsto pelo Acordo de Paris. A conclusão baseia-se em simulações do BLUES (Brazilian Land Use and Energy System Model), que projeta cenários distintos de uso da terra, energia e políticas climáticas. A consolidação desse resultado coincide com um momento estratégico: A COP 30, em Belém, onde o tema da antecipação das metas climáticas está no centro do debate global. Os caminhos possíveis: natureza ou energia como força principal O estudo identifica dois caminhos realistas para acelerar a descarbonização: AFOLU-2040: soluções baseadas na natureza Esse cenário concentra esforços no combate ao desmatamento, na restauração de ecossistemas e no estímulo a práticas agrícolas regenerativas. Segundo os pesquisadores, 87% das remoções de carbono até 2040 poderiam vir dessas ações: Zerar o desmatamento até 2030; Ampliar reflorestamento e restauração; Incentivar sistemas agroflorestais; Adotar modelos produtivos que regeneram o solo e ampliam a biodiversidade. É o caminho de menor custo e maior previsibilidade, já que se baseia em tecnologias e práticas que o país domina. Energy-2040: a aceleração da transição energética A segunda trajetória aposta em uma mudança estrutural da matriz energética brasileira. Maior uso de biocombustíveis; Redução da dependência de petróleo; Expansão de tecnologias de captura e armazenamento de carbono; Desenvolvimento de novas infraestruturas de baixa emissão. Este cenário reduz riscos territoriais, mas envolve custos mais elevados e o uso de tecnologias que ainda estão em fase de consolidação no país. Custos, desafios e potencial de impacto A AFOLU-2040 exigiria cerca de 1% de investimento adicional em relação à meta atual, sendo considerada a via mais acessível. Já a Energy-2040 demandaria cerca de 20% a mais de investimentos, devido à criação de novas infraestruturas e tecnologias industriais. Ainda assim, os pesquisadores apontam que, com cooperação entre setores públicos e privados, além de uma distribuição justa dos custos, ambas as rotas são viáveis. O Brasil, se bem-sucedido, pode se tornar um exemplo global de desenvolvimento associado à descarbonização. Por que isso importa? E qual o papel da reciclagem no processo A transição para emissões líquidas zero envolve reduzir a pressão sobre florestas, diminuir o uso de combustíveis fósseis e transformar a lógica de produção e consumo. Nesse ponto, a reciclagem se torna uma das ferramentas mais diretas para: Evitar emissões associadas à extração de novos recursos; Reduzir o volume de resíduos enviados a aterros; Diminuir o uso de energia em processos industriais; Fortalecer cadeias produtivas circulares. Ao prolongar o ciclo de vida dos materiais, a economia circular contribui para a mitigação climática, especialmente em setores como metais, papel, embalagens e plásticos, que têm grande impacto emissivo na cadeia produtiva. O estudo indica que alcançar emissões líquidas zero até 2040 é possível, desejável e estrategicamente vantajoso. Mais que atingir metas, trata-se de redefinir o desenvolvimento nacional, conectando proteção ambiental, economia e inovação. Nesse processo, a reciclagem e a economia circular não são apenas complementos, são pilares essenciais de uma transição climática consistente, capaz de gerar emprego, valor e impacto real.
4 de novembro de 2025
O iceberg A23a, considerado o maior do mundo por décadas, está se desintegrando na costa da Antártida. Sua trajetória mostra como o aquecimento global está acelerando a perda de gelo no planeta – e por que isso importa para todos nós. O que aconteceu com o A23a Com quase 4.000 km² de extensão no início de 2025, o iceberg perdeu mais da metade de sua área ao se deslocar para regiões mais quentes do Oceano Austral. Hoje, mede cerca de 1.770 km². Embora o desprendimento de blocos de gelo seja um processo natural, o aumento da frequência e da velocidade com que isso ocorre está ligado às mudanças climáticas induzidas por atividades humanas. Por que o derretimento preocupa Icebergs ajudam a regular a salinidade e a temperatura dos oceanos. Quando se fragmentam rapidamente, liberam grandes volumes de água doce no mar, alterando correntes marítimas e impactando a vida marinha. No caso do A23a, havia risco de que ele afetasse colônias de pinguins e focas na ilha Geórgia do Sul, um alerta sobre os efeitos em cadeia desse fenômeno. O elo com o nosso consumo Grande parte do aquecimento global é impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa resultantes da produção e descarte de bens de consumo. Quando reciclamos, reaproveitamos e reduzimos o desperdício, ajudamos a diminuir a demanda por extração de matérias-primas e a energia usada na produção, dois fatores que estão entre os maiores emissores de CO₂ no planeta. Economia circular como solução A economia circular propõe que produtos, materiais e recursos sejam mantidos em uso pelo maior tempo possível, reduzindo a geração de resíduos e as emissões associadas. Essa abordagem é essencial para frear o ritmo de mudanças climáticas e preservar ecossistemas frágeis como o da Antártida. O derretimento do A23a não é um evento isolado. É mais um sinal de que o planeta está em transformação acelerada e de que precisamos agir. Práticas como separação de materiais, participação em programas de logística reversa e consumo consciente são passos concretos para reduzir emissões e ajudar a manter o equilíbrio climático global.